Antes do anoitecer, os 20 voluntários da Expedição Shalom chegou na casa dos Servidores do Servidor (Servidores del Servidor), onde um grupo de leigos consagrados franciscanos, devotos de Maria e de Padre Pio, preparam o tão esperado “canelazo” para servirem nas ruas mais carentes e frias de Bogotá aos moradores de rua e às prostitutas.
A primeira coisa que fizemos ao chegar nessa casa foi de fato,preparar o canelazo que iríamos servir mais tarde. E aqui eu abro um parêntese para explicar o que é o canelazo para quem, assim como eu, nunca ouviu falar nessa bebida. Canelazo é uma bebida bastante comum em Bogotá, feita com um doce da cana-de-açúcar, mais conhecido como rapadura, com água quente, canela e algumas ervas.
O destino do canelazo era um bairro da capital colombiana chamado Santafé, onde moradores de rua, homens, mulheres, transexuais e menores de idade se prostituem.
Fomos divididos em grupos. Uns iriam ao encontro das prostitutas mulheres, outro das prostitutas transexuais, e, por fim, o grupo mais difícil na minha opinião, o grupo das jovens menores de idade, o que eu fui.Os rapazes seguravam as garrafas térmicas com a bebida (canelazo), as mulheres os sacos de pães e os copos descartáveis. E assim fomos caminhando pelo bairro Santafé.
Não demorou muito, e na primeira esquina, cruzamos com um grupo de prostitutas menores de idade. Tinham por volta de 13 a 16 anos estavam todas com batom forte, brilho no corpo e roupas que as deixavam quase nuas.Estava muito frio, por volta de 9°C, e como o canelazo é uma bebida muito quente elas logo aceitaram. E ali brotou uma forte experiência em nossos corações de piedade e de misericórdia.
Nós olhávamos no rosto de cada menina e falava: Dios te bendiga. E elas respondiam: “Gracias. Dios te bendiga tambien”.
Elas sorriam e agradeciam. Eram crianças que poderiam estar em suas casas, com suas famílias, brincando, mas estavam ali, naquela situação, expondo seus corpos, suas vidas e por que não dizer, suas almas.
E a medida que íamos caminhando, também passamos por mulheres e transexuais à espera de um cliente para aquela noite. Elas ficavam na porta das casas e de bares, e enquanto não aparecia aqueles que elas esperavam, nós íamos até elas.Deus nos enviou para cada uma dessas pessoas e o objetivo disso era nítido: precisávamos viver essa realidade para encarnar e reconhecer que ela existe! E é forte!
Em um momento, naquela mesma noite, algo nos surpreendeu ainda mais. Mulheres com suas próprias crianças, muito provavelmente seus filhos, ocupavam aquelas ruas. Fomos atingidos por olhares muitas vezes sem esperança e descrentes, almas marcadas por grandes dores, talvez grandes lutas travadas.
Nossos olhos viram o que nossa imaginação jamais conseguiria alcançar. Fomos capazes de ouvir o apelo de Deus para a nossa juventude, a necessidade de manter os olhos Nele e a mão estendida para o próximo e a outra pronta para o resgate das almas que necessitam do nosso sim para conhecerem a Deus. Entendemos por meio dos irmãos Servos do Servidor que o serviço é o melhor caminho de amar, cuidar e ser canal de graça de Deus.
Nessa expedição somos chamados a ter coragem, a renunciar e ter disposição. Saímos do Brasil de uma forma e temos a plena certeza que não voltaremos os mesmos. O Amor é misericordioso!
Bogotá/Colômbia, 06 de fevereiro de 2019.
Carmina Burana Gurgel Coelho